Naquele instante chamado de “madorna” pelos antigos, naquele breve intervalo de tempo pouco antes do adormecer, por um triz para descansarmos nos braços de Morfeu, é quando todas as paranoias chegam martelando a cabeça. Muitas noites insones, eu me perguntava: o que eu vim fazer aqui? Qual é a minha missão nesse planeta louco? O que deixarei para as gerações futuras? Lembrarão de mim daqui a 100 anos?.. Certamente, crises existenciais são próprias dos indivíduos adultos.
Acordava com o coração angustiado por não saber as respostas. Passava os dias em oração ao Universo, “buscando sinais”, tentando entender como preencher aquele vazio existencial. Até que, em um mesmo dia, tive logo três sinais: quem procura, sempre acha.
O primeiro sinal veio bem cedinho, no trânsito, levando minha garota para a escola, e escutei um “odeio estudar”. Meu coração de super nerd deu um capotão. E no meu insistente “por quê?”, ela me disse “se eu pudesse, pulava o muro da escola”.
O segundo sinal veio na tarde quente daquela mesma quarta-feira. Reencontrei por acaso um aluno de 2009. Como lá se vão mais de duas décadas nesse ofício, não é raro esses reencontros, mas com esse foi bem diferente. Ele chegou, ajoelhou-se aos meus pés em reverência e agradeceu: “mestre, suas aulas na faculdade mudaram a minha vida”. E acrescentou: “você precisa mostrar ao mundo o seu diferencial, por favor, não desista”.
O último sinal veio à noite, quando meu marido e eu decidimos tomar um gin em um bar da cidade. À medida que meu corpo absorvia aquele líquido relaxante, o dia cansativo ficava para trás, e novas sinapses começaram a ocorrer na minha mente. Naquele ritual cotidiano de compartilhar como foi o dia, relatei para o meu companheiro os acontecimentos com minha filha e com o ex-aluno. Sendo eu uma mulher de apenas um drink, a metade da taça já me afetou como se fosse a pílula falante do Dr. Caramujo e tagarelei como a Emília.
Enquanto eu falava, a banda no bar dedicava-se a tocar “Another Brick in the Wall”, do Pink Floyd, com aquele famoso refrão: “Hey! Teacher! Leave us kids alone!” A ironia da situação não me passou despercebida. Parecia que a música de 1979, com sua mensagem de rebelião contra um sistema educacional opressivo, ecoava minhas próprias preocupações sobre a educação.
“Que muro é esse que os alunos querem pular?” – Essa pergunta ecoava em minha mente enquanto a conversa fluía e a noite avançava. Era uma interrogação que capturava a essência daquele dilema que estávamos discutindo: a divisão entre o sistema educacional tradicional e o vasto mundo em constante transformação fora das paredes das escolas.
Então, uma hecatombe: entendi o que vim fazer por aqui. Sou agora uma andorinha no verão-revolução, propondo, com esse projeto, tecer diálogos inteligentes sobre a educação disruptiva e os métodos inovadores de ensino.
Venha comigo?
2 respostas
Gostei muito do visual e do conteúdo do seu site. Espero que tenha vida longa e muitos resultados, principalmente porque parece uma iniciativa legítima de pensar as coisas de forma diferente. Parabéns! Esse texto me tocou.
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